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Será que como sociedade temos respeitado o sono?

Dr. Carlos Figueiredo, Pneumologista

12 DEZEMBRO, 2023

Já pensou hoje como pode aumentar a produtividade e reduzir os custos promovendo o Sono nos trabalhadores?

Numa sociedade em crescente digitalização, atividades profissionais e lúdicas expandidas pelas 24h, muitas vezes com um inflexível horário de trabalho e necessidade de longas deslocações casa-trabalho, não é rara a remoção de horas de sono e o não respeito pelo relógio biológico individual de cada um. Aliada a um preocupante crescente nível de problemas de saúde mental, destacando-se o burnout e ansiedade, com impacto na quantidade e qualidade do sono.

De facto, segundo a Organização Mundial de Saúde, o sono é uma necessidade básica do ser humano e essencial componente no estado de saúde, qualidade de vida e nível de performance diurna. É, portanto, um pilar basilar na manutenção de saúde, em conjunto com a atividade física e exercício e a nutrição. Já é sobejamente conhecida a relação entre todos estes componentes. Tanto afetam de forma independente, mas também combinada/sinérgica, o nível de saúde do indivíduo.

A diminuição de tempo de sono tem consequências físicas (sonolência, fadiga, alterações cardiovasculares como a hipertensão), alterações cognitivas (redução da atenção, motivação, performance e capacidade intelectual), complicações de saúde mental, alterações do estado imunitário e risco de acidentes e potencial mortalidade.

Das mais frequentes causas de diminuição de tempo de sono, destacam-se a privação de sono voluntária (ex. limitação pelo horário laboral) ou involuntária (ex. filhos dependentes) e a insónia.

Existindo um vasto campo diagnóstico de patologias/alterações associadas ao Sono, tanto de causas privação de sono, via aérea/obstrutiva (onde se destaca a muito prevalente apneia obstrutiva do sono), centrais (ex. hipersónia – excessiva necessidade de sono), movimentos (ex. movimentos periódicos dos membros/pernas inquietas), comportamento (parassónias, ex. sonambulismo) e ritmo circadiano (ex. jet lag).

Muitas e variadas são as medidas de promoção da quantidade adequada e qualidade de sono, geralmente agrupadas em estratégias designadas de higiene do sono. Sem dúvida que a sua escolha, implementação e consequentes resultados são individualizados, não existindo uma regra one size fits all. Frequentemente é necessária uma abordagem integrativa e personalizada, idealmente multidisciplinar, na abordagem da otimização das causas e consequências da alteração/patologia do sono, bem como do controlo/resolução da alteração propriamente dita. Aliando métodos de higiene do sono, psicoterapia (cognitivo-comportamental) e mudança de estilo de vida, otimizando níveis de atividade física e a nutrição, uma apropriada escolha terapêutica farmacológica quando necessário e dispositivos adicionais frequentemente necessários na patologia obstrutiva do sono (ex. dispositivos de pressão positiva contínua da via aérea – CPAP; dispositivo de avanço mandibular; abordagem/correção nasal incluindo cirúrgica; e cirurgia maxilo-facial).

Sublinhando a complexidade desta área, gostaria de sublinhar a relevância de uma adequada e completa avaliação individualizada por profissionais dedicados à área do Sono, idealmente multidisciplinar, na apreciação do contexto individual de saúde de cada indivíduo, suas comorbilidades (outras situações clínicas com potencial relação causal/consequência), o impacto na vida diária, o estabelecer de um plano terapêutico e um acompanhamento seriado.

Voltando à questão inicial, parece-me claro a necessidade de ser continuamente relembrada a importância de um Sono adequado para uma sociedade saudável, produtiva e próspera. Diversos estudos internacionais já documentaram e sublinharam a relação entre a má qualidade (e quantidade) de Sono e a produtividade e os custos (diretos por absentismo laboral e indiretos por questões de saúde) com os trabalhadores das empresas. Várias formas existem para dinamizar e promover a qualidade de Sono dos colaboradores de uma empresa, sendo necessário alicerçarem-se na deteção ativa através da Medicina do Trabalho, na referenciação precoce e atempada para avaliação por profissionais dedicados à área e na integração e discussão de modelos de trabalho que permitam ao máximo respeitar o relógio biológico de cada trabalhador e potenciar a higiene do sono.

Já pensou hoje como pode aumentar a produtividade e reduzir os custos promovendo o Sono nos trabalhadores?