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Só avança quem descansa

Carla Leitão Joaquim, Advogada na CLJ Legal e Responsável da Área de Assessoria Jurídica da Rede do Empresário

11 JULHO, 2024

Parecerá tão incontestável como a certeza de um novo pôr do sol amanhã. Mas será mesmo?

Parecerá tão incontestável como a certeza de um novo pôr do sol amanhã. Mas será mesmo?

Para tantos empresários, o descanso não rima com negócio: talvez por temer largar o leme e deixar o barco à deriva; quem sabe para garantir que as oportunidades não se vão com a maré; possivelmente, quando a sobrevivência assim parece impor; ou até por um sentido de propósito que se entranha na própria identidade e de que já não se sabe desligar.

Outras tantas razões, facilmente, se apontariam. Cada um conhecerá as suas.

Seja lá pelo que for, serão ainda muitos os empresários que, por escolha ou falta dela, permanecerão a bordo do negócio em tempo de férias. Uns, empreendedores solitários a quem falta uma equipa em quem delegar a continuidade do que se julga não poder parar; outros, maestros de uma orquestra já bem composta que não quererão ou não saberão como pousar a batuta. O que fazer então?

A todos, caberá recordar que só avança quem descansa. Parar é imprescindível para medir o caminho já percorrido, perceber onde chegámos e ganhar balanço para depois seguir adiante até à meta. Mas parar é também necessário para nos redescobrirmos pessoas, recuperar o que fomos perdendo de nós na correria dos dias e regressarmos de baterias carregadas ao volante da vida e do negócio que nos cabe conduzir. 

Como se faz isto? Estratégias haverá mil e, para cada um, uma melhor se ajustará – identificar com clareza o período da ausência, antecipar a conclusão de trabalhos pendentes, delegar especificamente as funções que não possam esperar, distribuir tarefas e imputar responsabilidades, aproveitar a tecnologia para implementar automatismos e monitorização à distância, assegurar à equipa que se está à distância de um telemóvel ou definir milimetricamente como e quando se estará contactável.

Independentemente de como o fazer, os empresários bem sabem que mesmo nada –  nem uns dias de férias, nem tempo na agenda ou números na conta bancária – se alcança com segredos inconfessados, dicas milagrosas ou passes mágicos. A receita para quase tudo é universal, conhecida e tem apenas cinco letras – plano.

Nada como planear este tempo de não estar onde se está todos os dias, garantido que o negócio continua, os trabalhadores fazem o que lhes cabe, os fornecedores entregam o esperado e os clientes recebem o contratado. Ou, simplesmente, se assim se planeou, aferrolham-se as portadas, tranca-se a porta, levam-se as malas e fica apenas visível o aviso “Fechado para férias. Até breve”.

Chegados ao tempo dos dias solarengos e das noites quentes, das manhãs de esplanada e das sestas da tarde, das longas viagens ou da praia mesmo aqui ao lado, importa que possamos parar para descansar. E, sobretudo, apreciar. É que, cedo, já será tempo de voltar a avançar.

Em jeito de nota final, dir-se-á que o título do presente artigo é nome de um livro da autoria do padre jesuíta Vasco Pinto de Magalhães.