A abertura deste Business & Science Network teve lugar durante a iniciativa RHI (Revolution, Hope, Imagination), um projeto do Arte Institute de Nova Iorque, que visa precisamente promover um novo diálogo entre a arte e o negócio, a cultura e o turismo. Tanto a iniciativa RHI como o BSN da Cultura e Turismo têm esse objetivo em comum de mostrar de forma prática como estas áreas se podem interligar e ao mesmo tempo sustentar-se mutuamente.
Em Portugal, a ponte entre o setor cultural e o setor empresarial e do negócio parece ainda incipiente e com um longo caminho a percorrer. No entanto, há exemplos em que essa ligação tem funcionado como acreditamos que pode ser feito. O caso do Arte Institute é um desses exemplos, em que nos seus 12 anos e meio de existência, tem vindo a aprofundar esse modelo de negócio e dessa forma mantendo a sustentabilidade da organização.
Na nossa experiência, e agora falo como fundadora do Arte Institute, há realmente por parte das empresas um grande interesse em trabalhar com o setor cultural. Por parte do setor cultural há ainda alguns desafios a serem superados e alguns anticorpos em trabalhar com as empresas, com o receio de que se comprometa a identidade e a criação artística. Em Portugal, na área cultural as práticas de angariação de fundos estão ainda muito enraizadas em modelos desatualizados, que dificultam muito que nos dias de hoje as empresas possam tornar-se parceiras numa relação de “win-win”.
O modelo do Arte Institute assenta num estudo cuidado das empresas, tentando compreender que tipo de oferta pode fazer essa mesma empresa e ajusta a sua proposta a uma necessidade que identificou. Em vez de pedir financiamento para simplesmente colocar um logotipo nos espetáculos que vai apresentar, oferece muitas vezes serviços na produção e eventos que a própria empresa vai realizar e estabelece uma relação direta com o marketing para que possam através do seu “know-how” no setor cultural e na produção diminuir custos à própria empresa. Um exemplo prático: há alguns anos fizemos um projeto chave na mão para uma das nossas empresas que investe anualmente no instituto, onde nesse pacote se incluía todos os espetáculos selecionados pela empresa e fizemos toda a produção. O valor final que a empresa pagou foi muito inferior, caso tivessem feito o evento todo de raiz e do início, uma vez que ao investirem anualmente na nossa organização, passam a ser membros e beneficiam de um pacote de benefícios em que se inclui exatamente acesso aos nossos serviços de produção, a parcerias internacionais que estabelecemos, entre outras coisas. Além disso, tínhamos também um know-how na região onde se realizou o evento uma vez que o nosso “métier” está intimamente ligado a um network internacional e à internacionalização de projetos e artistas.
Um outro exemplo em que os profissionais da cultura podem apresentar novas propostas e acrescentar-lhes valor é a questão do “team building “. Pela sua própria formação, os artistas têm por norma ferramentas para passarem o seu conhecimento sobre técnicas de voz, de relaxamento e outros ensinamentos que melhoram as apresentações em público. Estes tipos de formações são importantes para muitas empresas desenvolverem as capacidades de comunicação dos seus colaboradores. Por que não apresentar conjuntamente com a proposta de investimento num espetáculo, esta proposta de formação. São itens como estes que numa proposta acrescentam valor e fazem com que uma empresa possa trabalhar com o setor cultural sem ser apenas com uma marca com logotipo que eram já as propostas apresentadas há 20 anos atrás. As empresas precisam de outro tipo de abordagem e precisam muitas vezes de entender como pode funcionar esta relação com a área da cultura de forma que eles realmente beneficiam. No caso apresentado acima, podem diminuir um custo que eventualmente iriam gastar numa empresa de recursos humanos para fazer esse workshop ou ação de “team building” e simultaneamente, podem ser investidores de um projeto cultural.
O mesmo acontece com o setor da cultura e o turismo. O turismo para ser realmente sustentável e conseguir consolidar que turistas que já estiveram em Portugal retornem, tem de estar assente em diversos vetores para além da gastronomia, da beleza do país, da simpatia do povo português, da nossa beleza natural e os nossos vinhos.
A cultura tem de ser um dos pilares que sustenta o turismo e podemos ver vários exemplos, como: Paris ou Londres. Tanto num caso como noutro os turistas retornam não para ver sempre os mesmos monumentos, mas sim sentir e experienciar a atividade cultural que estas duas cidades vibrantes proporcionam. Portugal tem essa oferta cultural que se for bem capitalizada pode vir a beneficiar cidades fora do radar do setor turístico. Um exemplo prático: uma cidade que se visita num dia, por um ou outro monumento que se destaca, podemos criar mecanismos para sediar os turistas mais tempo. Se criarmos experiências ou workshops de gastronomia, ou de uma arte tradicional dessa região, em que os turistas possam ficar por dois dias para aprenderem alguma dessas atividades, conseguimos que essas cidades deixem de ser só para um “day trip”. Desta forma, também a hotelaria e a restauração da cidade beneficiam com a estadia prolongada desses mesmos visitantes. Se se conseguir interligar estes pacotes criados nas próprias cidades com quem vende as viagens e os agentes turísticos, quando a pessoa compra um pacote para vir visitar Portugal, esta cidade que estaria fora do radar passa a estar. Simultaneamente podemos ainda incluir a classe artística local que pode também ter participações nas próprias experiências ou até por exemplo em jantares que podem ter esse complemento artístico seja musical ou literário ou até de dança, consoante o tecido artístico dessa localidade. Desta forma, com uma única estratégia envolvendo todas as áreas, criamos também uma economia circular em que todos estão capitalizando e ganhando.
São realmente infindáveis as possibilidades com que podemos interligar a área da cultura do negócio e do turismo. É preciso uma visão estratégica e concertada para que se consiga implementar algumas destas estratégias que em muito beneficiarão Portugal, as suas empresas, o turismo e a classe artística. Como costumo dizer o “país é do tamanho dos que têm capacidade para o imaginar” … Sonhemos então o país que queremos ter, mas mais importante, passemos à ação e concretizemos!