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Francisco Jaime Quesado lança livro manifesto “Nova Competitividade”

Francisco Jaime Quesado

10 MARÇO, 2023

A mensagem deste livro manifesto está voltada para o futuro.

Quando há 40 anos publiquei o meu primeiro texto no Jornal de Notícias, estaria longe de imaginar que esse seria o ponto de partida de um longo percurso de contribuição cívica através do ato da escrita. Todos temos um percurso. Um percurso feito de momentos, de contextos, uns melhores, outros piores. O nosso percurso é muito o reflexo das opções que fazemos, das relações que estabelecemos, das situações com que nos confrontamos e dos desafios com que nos acabamos por deparar. Ter um percurso é assumir uma responsabilidade positiva para com a sociedade e afirmar a vontade de participar e ter um contributo que possa ser reconhecido como válido para o bem-estar coletivo.

Estes 40 anos de escrita são  um compromisso entre a vontade e a circunstância. Tem sido ao longo destes 40  anos que agora se completam o resultado de opções claramente assumidas e os muitos contextos que me têm rodeado e muitas vezes condicionado – umas vezes de forma positiva e outras negativa – nos objetivos  conseguidos. A área da inovação e competitividade desde cedo ganharam destaque nas minhas reflexões, nas minhas partilhas, nas minhas discussões. Tenho para mim, a partir do conhecimento que fui consolidando da realidade económica e social que nos rodeia, que o exercício de construção e execução dos alicerces de uma sociedade e economia competitiva não se faz por decreto, mas resulta duma agenda colaborativa para a qual somos todos convocados

Em 1982, data da publicação do meu primeiro texto que aqui também celebro, a nossa sociedade estava ainda a dar os primeiros passos para se tornar num verdadeiro espaço aberto e moderno, integrador e inclusivo, e a nossa economia tinha pela frente o desafio da competitividade que a adesão à então Comunidade Económica Europeia veio sinalizar como uma grande oportunidade. Quando nesses anos 80 tive a possibilidade de aprender na Faculdade de Economia do Porto os principais conceitos básicos do mundo economia e da gestão e assistir ao mesmo tempo ao choque de futuro que as nossas empresas e universidades procuravam agarrar, rapidamente percebi que a agenda da competitividade ia ser o grande desafio que tínhamos pela frente.

O tema da competitividade já estava na ordem do dia em termos internacionais e o primeiro livro de Michael Porter – Competitive Strategy, de 1980 – sinalizava a criticidade para as organizações empresariais de estruturarem de forma organizada a sua estratégia competitiva para o futuro. Este é o tempo em que entre nós alguns grupos de referência como a Sonae e Amorim dão passos importantes no seu crescimento e reforço da base competitiva, entrando em novas áreas de negócio e em novos mercados internacionais. O tempo também em que a formação em gestão passou a ser uma aposta de todos os que queriam dar um contributo claro para a criação de valor também nas empresas – a marca MBA passou a fazer parte do glossário corrente destas áreas e eu próprio acabei por tirar o meu na atual Porto Business School.

A entrada maciça de fundos comunitários na nossa economia representava uma grande oportunidade em termos de reposicionamento estratégico das nossas fileiras e das nossas empresas – Michael Porter acaba por vir ao nosso país, a convite do Governo, e desenvolve um estudo que ficou célebre e onde apontou para vários setores da nossa economia, em particular os mais tradicionais, uma narrativa de aposta na competência e qualidade estratégica. Ou seja, na competitividade. As próprias políticas públicas são reconfiguradas para esta agenda competitiva e o PEDIP  assume-se como o primeiro instrumento coerente de apoio a uma agenda competitiva da economia portuguesa. Tempo de esperança, com os resultados em termos de crescimento e comportamento dos principais indicadores a serem muito positivos e prometedores.

Mas a agenda da competitividade não se faz por decreto. Implica uma verdadeira mobilização ativa estratégica da sociedade, dos cidadãos, das instituições e das organizações para um processo colaborativo, em rede, focado na criação de valor sustentado para o futuro. E implica também que a sociedade faça da cultura de responsabilidade, confiança e valor as chaves do seu posicionamento para o futuro. A realidade é hoje muito clara e os números não enganam – 40 anos depois do início deste exercício de agenda competitiva continuamos enquanto sociedade e economia a não conseguir agarrar o caminho do futuro e a fazer da criação de valor a marca de confiança no futuro. A Nova Competitividade – pela qual me tenho batido ao longo destes muitos anos de escrita e intervenção cívica – continua a ser uma esperança que falta saber agarrar.

Mas temos que saber ter confiança no futuro que aí vem. Temos uma nova geração de talentos – que apesar de ir para fora em busca de novas oportunidades – que representa um capital único pela excelência do seu contributo. Temos também uma capacidade empreendedora e inovadora que se tem acentuado nos últimos anos e representa um desafio único. Temos também tido uma agenda de reforço da posição internacional, com reflexos na presença nos diferentes mercados. As nossas instituições, fruto de investimentos que têm sido realizados, estão mais abertas a uma verdadeira cooperação. Estamos em linha com as agendas internacionais da sustentabilidade e do digital. Precisamos de saber integrar estas apostas e fazer delas a verdadeira base da Nova Competitividade a que aspiramos

A mensagem deste livro manifesto está voltada para o futuro. O percurso realizado ao longo destes 40 anos – em que tenho também através da escrita dado o meu contributo para a reflexão e discussão – é feito de uma narrativa de melhoria e progresso mas muito ainda falta fazer. Para sabermos cumprir o desígnio da Nova Competitividade, a que aspiramos enquanto economia e sociedade, precisamos agora de passar a uma etapa mais focada, organizada e centrada numa causa comum que a todos nos deve saber mobilizar.