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Formação em Literacia Financeira nas empresas? Sim! Não! Talvez!

Dulce Forte, Gestora, Mentora, Formadora certificada em Literacia Financeira

9 MARÇO, 2023

Numa altura em que os preços sobem diariamente, as taxas de juro disparam e as famílias vêm-se a braços com o endividamento pessoal, é importante olhar para o tema da formação em Literacia Financeira

Quando questionamos sobre a importância da Literacia Financeira do colaborador como contributo para o bem-estar e felicidade da empresa e sobre a responsabilidade social das empresas para a felicidade financeira dos colaboradores há sempre um mix de sentimentos.

Por um lado, ao falar em Literacia Financeira pensamos em cálculos matemáticos elaborados, investimentos complexos ou fórmulas mágicas para retorno das nossas poupanças. Mas na verdade é algo bem simples que se define como um conjunto de informações básicas sobre como fazer uma melhor gestão do próprio dinheiro. Numa linguagem mais corrente é a capacidade individual para GERIR BEM as finanças pessoais: ou se tem ou se aprende!!

Por outro lado, surge sempre a questão: qual a importância de se falar de Literacia Financeira quando falamos de empresas e do bem estar ou felicidade das mesmas e dos seus colaboradores? Não estamos a falar de aumentar os ordenados dos colaboradores, como muitos empresários nos dizem, mas sim de proporcionar-lhes ferramentas para elaborar e controlar o orçamento pessoal ou familiar – como comprar, poupar e investir e, de um modo geral, como gastar o dinheiro de forma saudável visando atingir os seus objetivos financeiros de forma racional e equilibrada.

Então porque é que é importante falar de Literacia Financeira?

De alguns anos a esta parte que me dedico a estudar o impacto que o tema da falta de literacia financeira da população activa, e o consequente endividamento, tem na produtividade dos colaboradores e das empresas.

O termo “Presentismo Financeiro, ou a arte de estar fisicamente presente mas mentalmente ausente” é um fenómeno a que os recursos humanos devem prestar atenção e encontrar meios para apoiar os funcionários com problemas de “saúde” financeira seja por meio de medidas preventivas (formação grupo) ou de resolução dos problemas (aconselhamento financeiro / mentoria individual). Ambas podem ser posicionadas dentro da proposta de valor do funcionário e / ou nos programas de “well-being”.

Quando os colaboradores estão financeiramente “doentes” a sua saúde e desempenho no trabalho sofrem com isso e a produtividade também. É impossível um colaborador trabalhar concentrado, e focado, se passar o dia a pensar como é que vai cumprir com o pagamento dos seus créditos, ou se as entidades credoras lhe enviarem sms, mails e contactarem por telefone várias vezes ao dia.

Em fevereiro de 2022 a ASF (Autoridade de Seguros e Fundos de Pensões) lançou às empresas uma série de recomendações no âmbito da Literacia Financeira das quais destaco as principais: “as empresas devem ensinar hábitos de poupança aos trabalhadores” e “devem envolver-se no esforço de promoção e desenvolvimento da resiliência financeira das famílias.”

Segundo este órgão supervisor é importante “alargar as atividades de formação financeira no local de trabalho, o que implicará o envolvimento e compromisso de entidades patronais, que ao apostar nesta capacitação, estarão também a promover o bem-estar dos seus trabalhadores.”

E como é que as empresas podem ajudar os seus colaboradores a serem financeiramente felizes? No ensino da Literacia Financeira está definido que 12 horas é o que cada indivíduo necessita para aprender os princípios base para gerir de forma saudável o seu dinheiro. Se as empresas apostarem nesta orientação e a combinarem com a obrigatoriedade de assegurar o direito individual à formação, prevista no artigo 131.o do Código do Trabalho, contratando formadores e empresas, devidamente certificadas e habilitadas, para este tema vão ao encontro do que o mesmo artigo refere, “as empresas estão obrigadas a: desenvolver e qualificar o trabalhador, com o objetivo de melhorar a sua empregabilidade e aumentar a
produtividade e competitividade da empresa”.

Numa altura em que os preços sobem diariamente, as taxas de juro disparam e as famílias vêm-se a braços com o endividamento pessoal, é importante olhar para o tema da formação em Literacia Financeira para a população activa como um tema prioritário.