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A Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo e o ODS 3 – A Construção de uma nova visão

Ana Paula Harfouche, Head da Agenda de Sustentabilidade e ESG

27 JANEIRO, 2023

A construção de uma nova visão que consubstancie um foco estratégico na prevenção da doença e na promoção da saúde

A construção de uma nova visão que consubstancie um foco estratégico na prevenção da doença e na promoção da saúde, em articulação com as comunidades – preferencialmente locais e com os seus atores – pela sua proximidade e conhecimento no terreno, é um desafio tremendo que é analisado e desenvolvido no livro Evidências II da ARSLVT com o título “Agenda para a Transformação 2030“, trabalho in continuum. De facto, é mesmo em continuidade que as boas práticas em saúde se vão ajustando à realidade que se transforma continuamente.

Pensar o caminho para concretizar algumas das metas e indicadores de sustentabilidade e boas práticas do ODS 3 – Saúde de Qualidade – foi um dos desafios desenvolvidos neste trabalho face a um conjunto de fatores conhecidos, que vão do financiamento do sistema à demografia, passando pelo acesso e proximidade, continuando pelo modelo de organização e pela equidade até à formação e treino dos profissionais.

Neste ambiente contextual a mudança progressiva para o foco estratégico referido acima – “a prevenção da doença e promoção da saúde e as relações com as comunidades locais” – exige uma execução que envolve várias componentes, interrelacionadas e interdependentes, que vai implicar uma nova abordagem, uma nova organização e um novo modus operandi.

Muitas questões se colocam ab initio, nomeadamente, como fazer o caminho até 2030, ano que deverá ser o tipping point deste processo de transição, e quais os resultados/métricas que o devem definir à data. Que prioridades, a que velocidade e ritmo devem ser executadas, garantindo que os avanços não têm “regresso”? Que recursos, capacidades, bem como, que mobilização de competências vão ser necessárias?

Acresce um conjunto de outros desafios que resultam do reconhecimento de várias transformações em curso nas sociedades:

a) Transformações no padrão de morbilidade das comunidades. Embora essas transformações tenham tendências comuns a nível nacional, existem particularidades que estão relacionadas com as características familiares, sociais, económicas e ambientais.
b) Transformações nas abordagens tecnológicas e nos modelos de negócio que oferecem meios de diagnóstico e terapêuticas mais avançadas para tratamento e cura das doenças. Estas transformações resultam, por um lado, da transição epidemiológica e, por outro lado, da inovação tecnológica na área da digitalização das economias e das sociedades.
c) Exigências maiores de controlo da eficácia, da eficiência e dos ganhos de resiliência das sociedades.

Neste contexto, e considerando as medidas que obtiveram consenso do painel de peritos salientamos a – “Melhor promoção da saúde e prevenção da doença de forma a contribuir para equidade em saúde” – na qual se preconiza que as intervenções de saúde terão que ser segmentadas em função das necessidades locais, o que vai exigir uma monitorização dos determinantes sociais de saúde – através de sensores, como os que existem, por exemplo, para as questões climatéricas – nas áreas geográficas de influência de cada unidade de saúde passando a ser parte integrante nas metas contratualizadas. Pressupõe, ainda, que os cidadãos sejam capazes de atuar precocemente pelos alertas recebidos, em conjunto com estruturas do poder local e outros atores da comunidade.

Quanto às intervenções clínicas -no contexto de uma relação clínico-doente – devem pautar-se pela personalização alavancados pela tecnologia digital que permitirá não só a continuidade de cuidados, mas e essencialmente, o conhecimento holístico de cada cidadão. Os profissionais, com estes instrumentos ficam bem colocados para conhecerem quais as intervenções de promoção de saúde e de prevenção de doença mais adequadas. Estão, também, bem posicionados para perceber quem necessita de uma maior mobilização de recursos para promover saúde e prevenir doença em prol da sustentabilidade e qualidade de serviço em saúde.